terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A VITÓRIA DE SAMOTHRACE

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A VITÓRIA DE SAMOTHRACE


"A cena é rápida. Surge aos 31 minutos do filme “O Código da Vinci”. Tom Hanks, no personagem do Professor Robert Langdon, atravessa, às carreiras e acompanhado por uma policial francesa, monumentais galerias do Museu do Louvre. Deixando para trás mensagens cifradas descobertas na imortal Mona Lisa de Leonardo, os fugitivos mergulham na escuridão do “Y” formado pelas escadarias Daru. E ali está ela, no meio de 4 segundos de sombras registradas em filme, onde somente o olhar atento e treinado do Viajante na História consegue vê-la. Magnífica. Secular. Eterna. A Vitória de Samothrace.
Ela é a estátua alada de uma mulher majestosa e guerreira, posicionada à frente do convés de um navio grego vitorioso em batalha mortal contra o inimigo sírio, por volta de 290 A.C. Esculpida em mármore róseo por um artista desconhecido, de Rhodes, representa a deusa grega Nike, a deusa da Vitória, e é uma das obras primas sobreviventes do período Helênico, quando os gregos conquistaram por completo a arte da representação do corpo humano.
Mesmo danificada, sem os braços e a cabeça, a Vitória de Samothrace encanta. As linhas de seu corpo perfeito são realçadas pelo véu de mármore que reproduz em suas formas o efeito de tecido molhado aderente à pele pelo vento marinho implacável. Quase um toque sobrenatural.
A estátua foi descoberta em 1863, pelo arqueólogo francês Charles Champoiseau, na pequena ilha de Samothrace (Samothraki, em grego), no Mar Egeu. Habitada por cerca de 2.300 almas, a ilha sedia ruínas do Santuário dos Grandes Deuses, construído nos anos 800 A.C. para cerimônias religiosas dos períodos pré-Helênico e Helênico. E foi no Santuário que Champoiseau encontrou a estátua da deusa da Vitória, aos pedaços. Restaurada em Paris, no Louvre, domina as escadarias Daru desde 1884. Especula-se que seus braços estariam levantados e abertos, reproduzindo o gesto de um guerreiro vitorioso. Em sua base, o mármore cinza em forma de proa de uma embarcação de guerra traz a inscrição “Rhodios”, indicativa da origem do escultor. Provavelmente era parte de conjunto religioso formado por um altar e um monumento naval. A lenda diz que a deusa teria descido dos céus sobre o navio do comandante para participar da gloriosa celebração da frota grega.
Em 1948 e em 1950, as mãos da Vitória de Samothrace foram descobertas em novas escavações no Santuário da ilha. Estão no Louvre, em caixa de vidro ladeando a estátua.
A Vitória de Samothrace é um troféu simbólico do domínio naval grego nos séculos anteriores à formação do Império Romano. Grandes batalhas foram travadas no mares da Antigüidade, principalmente contra as poderosas e colossais esquadras persas. No mais famoso desses combates, na Batalha de Salamis, o Rei Xerxes, refastelado em um trono de ouro colocado no alto de um penhasco, teve oportunidade de apreciar, em estado apoplético, 370 navios gregos comandados pelo almirante ateniense Temístocles, destruírem a incrível armada persa de 1.000 embarcações e 200.000 homens.
Os mistérios de Samothrace têm inspirado a reprodução de ícones pelo mundo afora. Ela pode ser vista no capô de Sua Excelência Automotiva, o Rolls Royce, ou na saudosa Taça Jules Rimet, a Copa do Mundo conquistada definitivamente pelo Brasil tricampeão em 1970 e derretida pouco depois por ratazanas de cartola.
Minha relação com a Vitória de Samothrace começou há muitos anos quando, quase ainda um menino, fui ao Museu do Louvre pela primeira vez. Encabulado, a ela não me declarei. Depois dessa ocasião e até recentemente, estive com ela em mais seis visitas, sempre sob um clima de respeitosa paquera. Se o passar dos anos foi esculpindo as marcas da idade em mim, nela aconteceu o contrário. Mesmo sem mostrar a cabeça, ela está cada vez mais linda
."

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